Por que é tão difícil perder barriga?

Derreter a gordura do abdômen costuma ser empreitada árdua, porque vários fatores favorecem que ela se acumule na barriga, principalmente nos homens.

Por Wilson Weigl

Fotos: Deposit Photos

Perder barriga para a maioria dos homens é uma missão árdua, quando não às vezes quase impossível. Mas é simples a explicação para o tamanho desse esforço: existem vários fatores que não apenas favorecem o acúmulo de gordura no abdômen como também dificultam sua perda, especialmente nos homens.

Alguns não ligam para o acúmulo de gordura e até se orgulham da sua “barriguinha de cerveja”. Mas não há nada para se orgulhar, porque a gordura localizada no abdômen, além de sinal de má forma, coloca a saúde em risco.

Fisiologicamente o acúmulo de gordura ocorre com mais facilidade em determinadas regiões do corpo, onde são mais numerosas as células especializadas em armazenar gordura, as células adiposas. Nos homens esses lugares são a barriga e os pneus, e nas mulheres os glúteos e as coxas. Em geral, no processo de emagrecimento são as regiões em que se “derrete” gordura por último.

Primeiramente, deve-se entender que a gordura é uma das fontes de energia do organismo. Toda função orgânica — respiração, circulação, batimentos cardíacos, processos cerebrais — consome energia e a gordura é uma das principais matérias primas para a geração de energia.

Há uma razão biológica para existir uma camada de adiposidade sob a pele: ela protege o corpo contra variações de temperaturas, como um isolante térmico, e de choques que podem danificar ossos ou órgãos. E para nossos antepassados dos tempos das cavernas, a sobrevivência podia depender da capacidade de armazenar energia em forma de gordura. A alimentação era escassa e dependia da caça: podia-se passar dias sem comer nada.

A única forma de eliminar o excesso de gordura corporal, independentemente de sua localização, é por meio de dieta equilibrada e regrada e da prática regular de exercícios físicos.

Perder barriga não é só um benefício estético. A medida da circunferência abdominal têm relação com o risco de doenças. A gordura subcutânea (que fica entre a pele e o músculo) acumulada no abdômen tende a se aprofundar e virar gordura visceral, em volta dos órgãos internos, aumentando ao risco de problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2 (não hereditário) e câncer de intestino.

A gordura abdominal é rebelde

A gordura abdominal é rebelde e teimosa e resiste à queima, porque o corpo a guarda como um “estoque” de energia reserva junto a órgãos vitais para suprir suas necessidades fisiológicas. A região concentra um número elevado de receptores hormonais Alfa2 adrenérgicos, que impedem o uso da gordura como fonte de energia, por causa da sua localização estratégica junto a órgãos vitais. E nos homens é ainda maior a quantidade desses receptores hormonais.

A genética influencia a gordura corporal

A tendência ao ganho de peso pode ter influência hereditária, com genes que predispõem ao menor gasto de gordura, à maior facilidade de acúmulo no corpo e à porcentagem de gordura corporal. Quanto menor essa porcentagem, mais fina é sua camada entre a pele e os músculos do abdômen, facilitando a definição muscular. Por isso alguns homens a musculatura abdominal fica mais visível e destacada.

Fator de acúmulo de gordura mais preponderante e comum do que o genético, porém, é o estilo de vida com maus hábitos como sedentarismo, falta de exercícios e alimentação desregrada, com abuso de gorduras, açúcar e alimentos processados.

A barriga do “falso magro”

O falso magro, de corpo “normal”, frequentemente tem gordura localizada na barriga e nos pneus. Ele pode até estar dentro do peso ideal para sua altura, porque o excesso de gordura compensa a menor quantidade de músculo. O peso na balança não deve ser considerado o mais importante indicador de sobrepeso, pois não leva em conta a proporção entre gordura, músculos e ossos, que somam o número que se vê na balança.

O corpo queima gordura como um todo

Quando se decide perder peso, não dá para escolher partes específicas do corpo em que a gordura será eliminada, porque no emagrecimento a lipólise (queima de lipídios) ocorre em todas as regiões. O organismo usa a gordura do corpo todo de forma global, num processo único que envolve metabolismo, balanço energético, sistemas hormonais e outros fatores.

Exercícios aeróbicos + musculação

Os exercícios que mais usam a gordura como fonte de energia são as atividades aeróbicas de intensidade moderada e longa duração, como caminhada, corrida, esteira, ciclismo e natação. Já os exercícios de força como musculação também ajudam no aumento do gasto calórico e no emagrecimento, porque quanto maior a massa muscular (e o consequente peso dos músculos) maior o consumo de energia (e gordura) pelo corpo. Um quilo de músculo consome quase 2 vezes mais energia (calorias) para se manter do que um quilo de gordura.

Déficit calórico é a estratégia

A tática número 1 para perda de peso é o déficit calórico, ou seja, consumir menos calorias do que se gasta, na soma dos exercícios físicos e nas atividades diárias. Assim o corpo é obrigado a buscar energia na gordura estocada, que segue para a corrente sanguínea para alimentar o trabalho das células de todos os sistemas do organismo.

Para que haja um déficit calórico e consequente emagrecimento, não se deve apenas sair cortando calorias: é preciso comer corretamente, adotando uma dieta saudável que forneça ao organismo as quantidades corretas de proteínas, carboidratos e gorduras.

Várias calculadoras online aferem a relação matemática entre consumo calórico e gasto energético. Use esta para descobrir quantas calorias queima e obter o número de calorias que precisa cortar da dieta: Calculadora Tdee Em Português – Tdee Calculator (calculator-online.net)

Abdominais sempre são importantes

Não adianta se matar de fazer abdominais se você tem excesso de gordura acumulada na pança. Os exercícios abdominais fortalecem e definem a musculatura mas não queimam gordura localizada.

Entretanto, caprichar nos abdominais não é jamais perda de tempo, mesmo que os músculos permaneçam escondidos atrás da gordura. Todo homem deve ter um abdômen forte (e não necessariamente trincado) porque sua tonificação aumenta a aptidão para as tarefas cotidianas, melhora a postura e o desempenho na academia e nos esportes.

Como o abdômen não tem proteção óssea, os músculos funcionam como uma “cinta” em volta das vísceras e também dão sustentação à coluna vertebral, em conjunto com os músculos das costas. Ao fazer abdominais, trabalhamos toda essa musculatura (para saber mais sobre a importância do abdômen forte, leia aqui).

Os músculos abdominais precisam de treino consistente, variação de estímulo, intervalo de recuperação, como qualquer outros músculos do corpo (leia aqui).