Narcisismo: até que ponto isso é um problema?

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Senso confuso e exagerado da própria importância e profunda necessidade de atenção e admiração são características da personalidade narcisista. Você consegue identificá-la?

Por Wilson Weigl

Com certeza você conhece um narcisista. Aquela pessoa que pensa que é melhor do que todo mundo, centraliza as conversas e adora os holofotes. Os narcisistas atualmente dominam as mídias sociais como Instagram e Tik Tok, onde costumam exibir sua beleza e seus atributos físicos sem pudor. São os veículos perfeitos para se mostrarem ao mundo da forma que necessitam para alimentar sua inflada autoestima.

Topar com um narcisista no seu feed pode ser uma experiência inofensiva, mas o problema é que, muitas vezes, esse tipo de pessoa está presente em nossas relações. Na vida real, pode ser difícil separar alguém de bem consigo mesmo e com a vida de uma personalidade narcisista. Sempre há o risco de já termos encontrado e talvez até se apaixonado por um deles.

Pesquisas de psicologia mostram que os jovens de hoje são mais narcisistas do que nunca. Segundo a publicação Psychology Today, mais de 10% das pessoas na faixa dos 20 anos sofrem de narcisismo subclínico, estimulado pelas mídias sociais. “Subclínico” porque não se enquadra explicitamente no Transtorno de Personalidade Narcisista, desordem mental na qual se tem um senso confuso e exagerado da própria importância, uma profunda necessidade de atenção e admiração.

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A mitologia grega inspirou o nome narcisismo. O caçador Narciso era conhecido por sua beleza excepcional. Um dia, a bela ninfa Eco o avistou e se apaixonou por ele, mas Narciso rejeitou seu afeto, partindo seu coração. Como punição, Nêmesis, a deusa da vingança, o atraiu para um lago, onde ele se deparou pela primeira vez com sua própria imagem. Apaixonado por seu reflexo, percebeu que seu amor não poderia ser correspondido e definhou até a morte, quando foi transformado na flor que recebeu seu nome.

Na psicologia atual, o narcisismo é conceituado como um traço que pode até ser saudável na construção da personalidade, ainda mais durante a adolescência, já que está inseparavelmente ligado à autoestima e ao amor próprio. O narcisismo patológico, porém, costuma envolver uma visão exageradamente positiva de si mesmo, senso de superioridade e falta de preocupação e interesse com os outros.

Um transtorno afetivo

O narcisismo é um problema psicológico, classificado como um déficit afetivo. Chamado de Transtorno de Personalidade Narcisista, é caracterizado pelo senso exagerado da autoimportância, que para ser alimentada necessita a apreciação de outras pessoas. Pesquisas mostram que homens e mulheres diferem em termos de propensão ao narcisismo: 8% da população masculina e 5% da população feminina apresentam o transtorno.

No entanto, por trás dessa máscara de extrema segurança, frequentemente há uma autoestima frágil e instável, apesar de inflada, e vulnerável à crítica. Como os narcisistas precisam da avaliação positiva dos outros, críticas fazem com que se sintam humilhados e derrotados. Sua resposta costuma ser raiva ou desprezo, como pode ser visto nas mídias sociais pelo modo que contra-atacam comentários negativos.

O tratamento do Transtorno de Personalidade Narcisista é basicamente psicoterapia. Porém, narcisistas raramente acreditam que têm um problema e não costumam procurar tratamento. Quando recorrem à ajuda, geralmente é por causa de efeitos colaterais, como depressão, uso de álcool ou drogas ou outro problema de saúde mental.

Existem dois tipos de narcisistas. Os chamados “grandiosos” costumam ser dominantes, arrogantes e extrovertidos. Ousados e assertivos, sentem-se felizes e confiantes em relação a suas vidas. Já os “vulneráveis”, por sua vez, são mais retraídos e inseguros, propensos a timidez e ansiedade em situações sociais.

Entretanto, ambos os perfis compartilham a mesma necessidade exagerada de receber atenção e admiração incondicional. O “grandioso” para alimentar ainda mais sua vaidade; o “vulnerável” para superar suas inseguranças.

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Como reconhecer o(a) narcisista

Desinteresse pelo parceiro

Narcisistas costumam usar seus parceiros afetivos como meio de regular sua autovisão positiva. Estudos de psicologia mostram que nos estágios iniciais dos relacionamentos, eles sempre são interessantes, confiantes e divertidos. No entanto, à medida que a relação progride, mostram menos calor, afeto e cuidado com os parceiros. Só começam a se sentir vulneráveis quando alguém os desmascara. Nesse momento, não têm escolha a não ser procurar outra pessoa com quem possam exercitar sua sedução combinada à manipulação.

O centro das atenções

Os narcisistas alimentam seu ego através de padrões de comunicação. Nas conversas, atraem o foco para si mesmos, se vangloriam de suas realizações e abusam da primeira pessoa do singular: eu. Prestam pouca atenção ao que diz seu interlocutor e quase sempre demonstram ansiedade em voltar a falar, frequentemente interrompendo a outra pessoa para voltar a falar de si mesmo ou dar sua opinião.

Textos “edificantes”

Os narcisistas do Instagram frequentemente usam subterfúgios para camuflar seu comportamento exibicionista, e os mais espertos muitas vezes sabem como evitar a autopromoção explícita. Em vez de publicar textos enaltecedores sobre si mesmos, publicam fotos sensuais acompanhadas de legendas “edificantes” com “dicas” de psicologia barata para suas fotos. Do tipo “seja você mesmo”, “siga seu sonho” e coisas do gênero, como se fossem um “ideal” a ser atingido.

Atualizações sobre forma física

Narcisistas são propensos a compartilhar status sobre suas “rotinas” de dieta e exercícios e seus avanços em direção a meta da forma física que engaje comentários e, consequentemente, admiração.

A área de fitness é cenário perfeito para os narcisistas falsos “treinadores”, especialistas em musculação e obcecados por academia. Eles ensinam exercícios e técnicas como disfarce para exibirem seus corpos. Frequentemente mostram seus corpos como uma meta a ser atingida por meio da dedicação, do afinco e da força de vontade, atributos que eles não cansam de destacar como propósitos de vida.

Os novos amores

Por sua habilidade em manipular os outros em seu próprio benefício, é comum, por exemplo, que um narcisista abandonado por um parceiro compartilhe nas redes sociais suas fotos com o “novo amor”, usando-o como objeto para provocar o anterior. Esses predadores exibem seu novo relacionamento para provar seu poder de sedução. Mas certamente estão empenhados em que o antigo(a) parceiro(a) descubra que já foi superado.

Sensualidade explícita

Os narcisistas são reconhecidos também por sua sexualidade e, em particular, por se envolverem em um estilo de amor “jogador” no qual os parceiros são usados como peões. Os pesquisadores do transtorno descobriram que os narcisistas usam mais linguagem sexual, fotos sensuais (muitas vezes censuradas, a ponto de terem seus perfis excluídos por violação de regras de conteúdo explícito). Tome isso como um sinal de alerta quando alguém parece um pouco obcecado demais com a afirmação da sexualidade.

Todas essas são estratégias para conservar sua posição no mundo, seu desejo de triunfar sentindo-se no comando, dono e senhor do tempo de outros, dos sentimentos alheios e, em última análise, de acreditar-se o diretor de relações desiguais em que buscam a submissão dos outros.

Os novos narcisistas que usam a ferramenta das redes sociais como palco para autoafirmação não percebem o efeito contrário dessa intenção. Quem for esperto, percebe que não são mesmo pessoas legais.