Por que temos tanta vontade de comer doces e salgadinhos?

A gente ataca batata frita, sorvete e chocolate a ponto de ficar arrependido depois. São alimentos “hiperpalatáveis”, criados para serem excepcionalmente saborosos e irresistíveis.

Por Wilson Weigl

Quem nunca atacou um saco de salgadinho ou batata frita até não sobrar nada no pacote? Ou quis provar uma “lasca” de chocolate e acabou comendo a barra inteira? Bombom, biscoito, salgadinho, sorvete, chocolate, doce de leite, pizza… Por que a gente ataca essas comidas a ponto de ficar com remorso depois? A vontade de comer doces e salgadinhos se explica porque eles são alimentos “hiperpalatáveis”, criados pela indústria para serem excepcionalmente saborosos e, portanto, irresistíveis.

O termo hiperpalatável nomeia alimentos que contêm componentes que realçam seu sabor (como gorduras, sódio, açúcar e aditivos químicos) provocando sensações de paladar não encontradas nos alimentos naturais. Além de nada saudáveis, eles podem se tornar altamente viciantes, levando à perda de controle que nos faz comer sem parar ou sentir vontade frequente de consumi-los.

A dificuldade de resistir a essas e outras porcarias tem menos a ver com falta de força de vontade e mais a ver com as reações bioquímicas que eles desencadeiam no cérebro. “Açúcares e gorduras estão envolvidos na ativação do nosso circuito de recompensa, criando uma experiência altamente gratificante. Fica difícil parar de comê-los, mesmo quando já estamos saciados”, explica a médica nutróloga Marcella Garcez, professora da Associação Brasileira de Nutrologia, coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

Enquanto a gente come, esse circuito cerebral de recompensa produz dopamina e outra substâncias neurotransmissoras ligadas ao bem-estar, que nos dão a sensação de prazer ao comer. Os hiperpaláveis contêm quantidades de açúcares, gorduras e sódio (sal) que fazem o corpo liberar doses cavalares dessas substâncias prazerosas, levando à compulsão alimentar ou a uma espécie de vício de comer esses alimentos.

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Há alguns anos, neurocientistas da Universidade de Connecticut afirmaram que os aparentemente inocentes biscoitos Oreo podem ser tão viciantes quanto cocaína, pelo grau de prazer que seu consumo produz no cérebro.

“Exemplos óbvios de hiperpalatáveis são chocolates, salgadinhos de pacote e biscoitos, mas as pesquisas buscam classificar com mais precisão quais são esses alimentos”, diz Marcella. Segundo a nutróloga, apesar da falta de consenso da comunidade científica, os pesquisadores definiram como hiperpalatáveis comidas que contêm mais de 25% de sua energia proveniente das gorduras, 0,3% ou mais do seu peso de sódio (como bacon, cachorro-quente e algumas pizzas); mais de 20% de sua energia proveniente de açúcares simples e o mesmo percentual de gorduras (brownie, bolo e sorvete); mais de 40% da energia proveniente de carboidratos e 0,2% do seu peso de sódio, como pães e biscoitos.

Estes são alguns dos principais alimentos hiperpalatáveis, desenvolvidos para serem extremamente saborosos:

  • Salgadinhos de pacote
  • Batata frita
  • Biscoitos doces
  • Sorvetes industrializados
  • Bolos industrializados
  • Chocolate
  • Lasanhas e pratos congelados
  • Salsicha
  • Bacon
  • Pipoca com manteiga
  • Pizza
  • Cereais matinais de pacote
  • Hambúrguer
  • Molhos prontos

O estudo indicou também que alimentos naturais (não industrializados) ou integrais não apresentaram critérios de hiperpalatabilidade. Nesse grupo estão frutas, legumes, verduras, cereais, ovos, nozes e castanhas e peito de frango.

Interessante é que até alimentos dietéticos, vendidos como produtos “mais saudáveis” podem ser hiperpalatáveis. Como explicar isso? Segundo Marcella, em muitos alimentos zero, diet ou light, ao terem reduzido um determinado nutriente (como açúcares), são adicionados nutrientes compensatórios, como gorduras. “Além disso, para manutenção do sabor da e textura, esses alimentos costumam receber aditivos alimentares”, completa.

Temos então que eliminar totalmente da dieta esses alimentos deliciosos? A doutora Marcella diz que não. “É desnecessário cortar completamente esse tipo de comida da alimentação; basta evitar os excessos. Saber que certas composições tornam os alimentos mais palatáveis contribui para comermos com mais consciência”, diz a especialista.

  • Freie a vontade compulsiva de comer porcarias, avaliando se tem realmente fome ou está descontando na comida a ansiedade, a frustração ou o tédio.
  • Procure comer mais frutas e legumes, cereais, pães e massas feitos com farinha integral, ricos em fibras, que dão maior sensação de saciedade e deixam menos espaço para a “fome” de doces, salgadinhos e outras porcarias.
  • Leia sempre o rótulo dos alimentos “suspeitos” de serem “turbinados” com gorduras, açúcares e sódio e evite-os, se achar que são criados para serem irresistíveis ao paladar.
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