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Infecções sexuais e disfunções na produção e qualidade dos espermatozoides são as principais causas da infecundidade no homem. E muitas tem tratamento.
Por Daniel Navas
Por mais que o assunto ainda seja tabu para muitos homens, é preciso falar sobre infertilidade masculina. Mais de 48 milhões de casais em todo o mundo sofrem com a dificuldade em engravidar, segundo estudo publicado na revista científica Reproductive Biology and Endocrinology. E desse total, em cerca de 40% dos casos o problema é do homem, aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por conta do machismo, muitos homens não aceitam fazer exames (que inicialmente se resumem ao espermograma, feito a partir da simples coleta do esperma) e deixam para a companheira a tarefa de se submeter a exames de fertilidade muito mais caros, complicados e invasivos. Enquanto poderiam descartar facilmente se o problema não é deles com uma simples masturbação no copinho.
São várias as causas da infertilidade masculina, relacionadas a problemas na formação, quantidade, qualidade, transporte e ejaculação dos espermatozoides. Apenas os exames clínicos (começando pelo espermograma, que analisa o esperma) são capazes de apontar qual é o motivo. Veja abaixo quais são os principais fatores da infecundidade do homem.
Varicocele (varizes nos testículos)
A varicocele é a principal causa de infertilidade masculina, responsável por cerca de 40% dos casos. O problema provoca a dilatação das veias do saco escrotal, impedindo que o sangue flua e causando inchaço: o processo é semelhante ao das varizes das pernas. “A má circulação sanguínea aumenta a temperatura da bolsa testicular e o calor compromete a qualidade do sêmen”, explica Georges Fassolas, médico especialista em reprodução humana pelo Fertility Center of Atlanta, nos Estados Unidos, e diretor da clínica Vivitá, em São Paulo.
“Em geral, as varizes nos testículos surgem na adolescência, sem apresentar sintomas, em 15% da população masculina. Somente na fase adulta é que o homem percebe os danos provocados pela doença. Isso explica o fato da varicocele ser responsável por quase metade dos casos de infertilidade masculina”, diz Fassolas.
O diagnóstico é feito por exames de imagens, e quanto mais cedo for feita a investigação, maior a chance de reverter os danos causados pela doença. “A solução geralmente é a cirurgia”, diz Ricardo Saade, assistente doutor de urologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP).
Infecções do sistema reprodutivo
As mais conhecidas são a clamídia e a gonorreia, doenças sexualmente transmitidas que comprometem diretamente o sistema reprodutivo. As infecções geralmente se localizam na uretra, por ondem entram os vírus e as bactérias, mas podem afetar também os testículos e a próstata. Em todos os casos, comprometem a produção do esperma.
Para reverter a infertilidade associada a essas infecções, o primeiro – e fundamental – passo a ser feito é tratar as doenças, por meio de antibióticos.
Falta de hábitos saudáveis
O consumo excessivo de álcool, de alimentos industrializados, o cigarro e o uso de drogas podem comprometer a mobilidade e a concentração dos espermatozoides no líquido seminal. “A principal reflexo dos maus hábitos no sistema reprodutor é a produção de radicais livres, moléculas nocivas que oxidam as células saudáveis do corpo e comprometem a saúde de forma geral”, esclarece Alex Meller, urologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “Bons hábitos, como evitar cigarro, controlar a ingestão de bebidas alcoólicas e adotar dietas ricas em frutas, legumes e cereais, diminuem o metabolismo oxidativo”, completa Meller.
A prática regular de atividade física (pelo menos 3 vezes por semana) evita o acúmulo de gordura corporal e, no extremo, a obesidade, que também prejudicam a saúde sexual. O exercício também estimula a produção de testosterona, o principal hormônio do homem.
Ausência de espermatozoides
Cerca de 20% dos casos de infertilidade masculina estão ligados à azoospermia, a ausência de espermatozoides no sêmen. O diagnóstico é feito pelo espermograma, exame que analisa o líquido ejaculado pelo homem e checa o volume de líquido, a quantidade e a mobilidade dos espermatozoides.
Suas causas são problemas na produção dos espermatozoides nos testículos, nos “depósitos” onde são armazenados (epidídimos) ou em algum lugar do seu trajeto até a uretra. É comum o bloqueio do canal deferente, que leva o esperma à uretra para ser ejaculado. “Influência genética, disfunções hormonais, varicocele e infecções são as causas frequentes do problema”, afirma Fassolas.
Se o espermograma confirma o diagnóstico, devem ser feitos outros exames clínicos, como o ultrassom, capaz de detectar problemas no canal deferente. Exames hormonais também são importantes, assim como exames genéticos.
O tratamento será feito direcionado ao tipo de azoospermia. Para reverter a azoospermia obstrutiva (causada pelo bloqueio no canal), pode ser feita uma punção do testículo com agulha fina. Na maioria das vezes, isso já resolve o problema. Já na azoospermia não obstrutiva (quando há poucos espermatozoides no sêmen), é feito o procedimento chamado microdissecção. Trata-se de uma pequena cirurgia do testículo, em que, com o auxílio do microscópio, procura-se ilhas de produção de espermatozoides. Estes são colhidos para depois fertilizar os óvulos da companheira. O sucesso da fertilização depende da quantidade e da qualidade dos espermatozoides colhidos.
Ejaculação retrógrada
Na ejaculação retrógrada, durante o orgasmo, em vez de o sêmen ser lançado pela uretra para fora, é levado para trás, para a bexiga. O chamado colo da bexiga, que normalmente fecha durante a ejaculação, fica aberto. O problema diminui a quantidade de esperma ejaculado, que pode comprometer a fertilidade.
Sua causa mais comum é o diabetes fora do controle e, depois, efeitos colaterais do uso de medicamentos para doenças cardíacas ou hipertensão.
O tratamento é direcionado para a doença causadora do problema, como o diabetes e o controle da glicemia, e, pode se estender ao uso de medicamentos que “fecham” o colo da bexiga. O uso desses remédios só é recomendado a homens que estão buscando fertilidade, esclarece Fassolas.
Profissões de risco
Pedreiro, engenheiro, químico e pintor. Essas são algumas profissões exercidas em ambientes adversos que comprovadamente influenciam a saúde reprodutiva masculina. O contato com substâncias químicas e a permanência por tempos prolongados em altas temperaturas ou radiação podem comprometer a produção de espermatozoides pelos testículos. “A informação sobre a ocupação do homem é crucial para que seja verificada a qualidade do seu sêmen”, finaliza Georges Fassolas.
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