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Distorções de autoimagem vêm aumentando entre a população masculina, especialmente entre os jovens, devido às expectativas irrealistas estabelecidas pelas redes sociais.
Por Wilson Weigl
O que significa autoimagem? Segundo o dicionário, é a “concepção que se tem de si mesmo”. Não se refere apenas aos atributos corporais, mas também a pensamentos, emoções e comportamentos. Mas em relação à aparência, sua autoimagem é como você enxerga e sente seu corpo. Essa percepção sobre si mesmo pode ter pouco a ver com sua aparência real. Não reflete necessariamente o que o espelho mostra ou o que outras pessoas veem. Está na sua cabeça, e em nenhum outro lugar.
Durante muito tempo, problemas de autoimagem negativa eram consideradas exclusividade do sexo feminino, vítima dos “padrões” de beleza. Acreditava-se que os homens desenvolviam mais defesas para se proteger desse ataque. Mas de uns tempos para cá, problemas de imagem corporal vêm aumentando entre a população masculina, especialmente entre os jovens, insuflados pelas expectativas irrealistas estabelecidas pelas redes sociais. Insatisfeitos, os homens se entregam a maus hábitos alimentares, distúrbios de auto imagem chamado vigorexia e dismorfia muscular e abuso de esteroides.
Para piorar, o isolamento e a falta de atividade social e física na pandemia levaram a um aumento nos problemas de imagem corporal masculina. Em uma pesquisa recente feita na Europa, quase metade dos entrevistados afirmou que a falta de exercício afetou sua saúde mental, aumentando a ansiedade e o estresse. Além disso, 58% disseram que a pandemia afetou negativamente a forma como eles se sentem em relação ao corpo, e apenas um quarto disse estar feliz com sua aparência.
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Nos últimos anos, uma legião de influenciadoras e marcas de roupas e cosméticos vem lançando campanhas de valorização dos diferentes biótipos femininos, se esforçando para desfazer os efeitos negativos do estigma do “corpo perfeito” imposto durante décadas. Esse movimento de positividade do corpo feminino está mais forte do que nunca, mas muito pouco, porém, tem sido feito em relação a nós, homens.
Por influência dos caras sarados do Instagram, por exemplo, somos submetidos a uma tirania da busca por um corpo forte, musculoso. Mais ainda: o medo de se expor muitas vezes impede que os jovens falem abertamente sobre suas experiências e busquem tratamento para problemas de saúde mental relacionados.
Nos últimos anos, pelo menos 4 dos 10 filmes de maior bilheteria mundial foram aventuras de super-heróis, segundo dados do Box Office Mojo. Nesses filmes, Thor, Super-homem, Capitão América, Pantera Negra, Aquaman e outros passam a mensagem subliminar que o corpo masculino “ideal” precisa de músculos, muitos músculos.
Enquanto algumas celebridades como o ator Robert Pattinson e o cantor Sam Smith se abriram sobre seus problemas de imagem corporal e distúrbios alimentares, astros como Chris Pratt e Hugh Jackman, que se transformaram de caras “normais” em super-heróis, convencem os jovens de que eles, também, podem atingir o corpo “ideal” caso se esforcem o suficiente.
A selfie na academia
Os filmes e seriados não são os únicos lugares onde estamos sendo expostos a corpos irrealistas. Uma pesquisa da revista GQ sobre a influência do Instagram no condicionamento físico revelou que 43% dos homens fazem fotos ou vídeos na academia. Como o número de usuários combinados entre Facebook e Instagram representa mais de 43% da população mundial, fácil perceber que estamos à mercê da “ditadura” dos sarados. Influenciados pelos fortões do Instagram, 25% dos homens com peso normal se consideram abaixo do peso, de acordo com a National Eating Disorders Association, dos Estados Unidos.
Para muita gente esses conteúdos de fitness são inspiradores e motivacionais, mas para outros representa apenas intimidação — especialmente para os novatos na academia. “A mídia social nos mostra todas essas pessoas indo à academia, perdendo peso, trincando o abdômen. Você pode pensar que isso me inspira, mas na maioria das vezes me dá vontade de me esconder em um canto”, comentou um homem numa mídia social.
A insatisfação corporal geralmente resulta da comparação do próprio corpo com o que a mídia afirma ser o corpo masculino “ideal” — magro e musculoso. Por isso os homens se concentram na hipertrofia muscular, que pode levar ao excesso de exercícios e ao uso de esteroides. Acredita-se que certos grupos masculinos, como homens jovens, gays, atletas, modelos e dançarinos podem ser particularmente vulneráveis à imagem corporal negativa ou à sensação de insegurança em relação a seus corpos. Isso ocorre porque eles têm mais probabilidade de estar em situações em que podem ser julgados (ou acreditam que serão julgados) de acordo com sua aparência.
Causas da imagem corporal negativa em homens
Alguns dos fatores que podem contribuir para uma imagem corporal negativa nos homens incluem:
- Bullying: ter sofrido provocações na infância e adolescência (ser chamado de muito magro, fraco ou gordo).
- Pressão dos amigos na adolescência para serem fisicamente “durões”, “fortes”, ou treinar na academia.
- Tendência cultural de julgar as pessoas pela aparência.
- Influência de jogadores de futebol, esportistas ou modelos de campanhas publicitárias.
- Imposição da mídia de imagens masculinas idealizadas que mostram que o homem “ideal” deve ser forte, magro e musculoso.
- Campanhas de saúde pública, que mesmo bem-intencionadas, incentivam as pessoas a perder peso ou mudar seu corpo.
Como melhorar sua autoimagem corporal
Um homem pode ter desenvolvido uma imagem negativa de si próprio durante toda a vida; portanto, mudá-la pode exigir tempo e esforço. Aqui estão algumas dicas que podem ajudar a estabelecer atitudes e comportamentos mais saudáveis em relação à autoimagem corporal.
- Lembre-se de que é absolutamente normal sentir alguma insegurança em relação à aparência. Seja gentil consigo mesmo e faça o seu melhor para aceitar o que você não pode mudar no seu corpo, para ter uma visão saudável de si mesmo.
- Reflita sobre suas experiências e tente identificar as influências negativas em sua imagem corporal desde a infância.
- Tente se pesar ou “checar” o corpo (em selfies ou no espelho) com menos frequência.
- Crie metas de exercícios e alimentação que enfatizem a saúde, a vitalidade e o bem-estar, e não só a aparência.
- Faça um pacto consigo mesmo para tratar seu corpo com respeito, o que inclui comer bem e não embarcar em rotinas de exercícios punitivos, dietas da moda ou uso de drogas.
- Desenvolva razões para se exercitar que não sejam focadas na aparência do seu corpo (como diminuição do estresse, ganho de agilidade, resistência e condicionamento cardiorrespiratório, em vez de se concentrar apenas na mudança da forma do seu corpo.
- Abrace seu corpo. Não importa se você é um atleta ou está totalmente fora de forma: tente ser feliz com sua aparência.
- Em vez de se concentrar no que você não gosta, tenha orgulho de si mesmo por tentar mudar o que você pode controlar. A confiança deve ser construída em você mesmo e em seus esforços, não no que as outras pessoas dizem.
Ajuda para problemas de imagem corporal
Se o seu estado de espírito está sendo afetado por como você se sente em relação ao seu corpo, você está se percebendo excessivamente focado no seu corpo ou desenvolvendo comportamentos autodestrutivos (como dietas radicais, compulsão alimentar ou por exercícios), então a ajuda profissional é uma boa ideia buscar ajuda profissional de um psicólogo.
O tratamento de saúde mental pode ser necessário para ajudar alguns homens a se curar da ansiedade, depressão, trauma e até ideias suicidas associadas a problemas de autoimagem. A terapia cognitivo-comportamental (um tipo de terapia que é bem objetiva e não dura muito tempo) costuma dar bons resultado para melhorar a baixa autoestima.
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