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A dificuldade de encontrar uma conexão verdadeira nos apps de paquera causa um estado de estresse, derrotismo e desesperança — o “dating burnout”.
Por Wilson Weigl
Fotos: Deposit Photos
Os aplicativos transformaram radicalmente — e facilitaram — a busca de um relacionamento amoroso. Mas para muita gente o empenho na busca de matches vem causando um péssimo efeito colateral: exaustão mental e emocional.
O uso intensivo dos apps gera um estado de estresse, derrotismo e desesperança (“dating burnout”, algo como “esgotamento de encontros” em inglês), quando se crê impossível achar uma conexão verdadeira.
O desânimo só de pensar em conhecer pessoas novas se instala quando há a sensação de que a vida afetiva se tornou um campo de desapontamentos recorrentes, causados por conversas que não evoluem, relações rasas ou decepção com expectativas frustradas e promessas não cumpridas. Percebe-se fazendo repetidamente as mesmas coisas — conversas e mais conversas, encontros atrás de encontros —, mas o investimento de tempo e energia sempre resulta em fracasso.
O burnout afetivo não é um sentimento sem nexo, mas um alerta legítimo do corpo e da mente numa situação de esgotamento físico e psicológico.
Estas são as principais causas da fadiga na busca de relacionamentos em apps de namoro.
- Experiências negativas, causadas por encontros frustrantes ou ghosting (a prática de desaparecer ou cortar a comunicação sem nenhuma explicação).
- Interações superficiais, que geram a sensação de que conversas nunca levam a conexões genuínas.
- Repetição: é preciso começar sempre do zero, ficar falando toda vez a mesma coisa.
- Sensação de “sempre estar buscando” — e nunca encontrando.
- Desapontamento: a constatação de que a pessoa não correspondia à descrição no perfil do app.
- Perda da autoconfiança: a decepção com conexões frustradas provoca sentimentos de rejeição e baixa autoestima.
Outro obstáculo é o medo de não preencher as expectativas alheias ou de ser ignorado, desprezado ou, pior ainda, abandonado. Para muitos, os contatos, conversas e encontros parecem mais testes de validação externa: o ciclo contínuo de avaliação, aprovação e/ou rejeição enfraquece a resiliência emocional, a capacidade de se recuperar de situações adversas. A própria pressão de “dar certo” com alguém, como se o sucesso amoroso fosse um troféu de autoafirmação, leva à perda da autoconfiança e a abalos na autoestima.
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Na pressão autoimposta para ter “sucesso” num encontro, alguém calejado por sucessivos fracassos pode apresentar uma versão de si mesmo que não reflete a real personalidade, só para corresponder às expectativas alheias. Pode-se dizer coisas que não se quer, tolerar comportamentos que normalmente não se aceitaria ou tentar impressionar alguém que se sabe não se alinhar aos próprios valores. Muitos se arrependem dessas interações desconfortáveis, mas muitos insistem e prosseguem no envolvimento — que normalmente não tem futuro.
Quando se tem um encontro ou uma conversa “ruim”, às vezes não é a experiência em si a raiz do problema, mas sim o que fazemos com ela. A dificuldade em se conectar pode estar mais enraizada no passado, em antigas feridas ou crenças limitantes, do que em situações presentes.
A busca de um par pode ser ainda mais difícil quando idealizamos ou criamos expectativas irreais e fantasias sobre a pessoa “certa”. Insiste-se em procurar sempre um mesmo tipo de pessoa, que se enquadre num ideal de parceiro “perfeito”, sem jogo de cintura para aceitar diferentes gostos, opiniões e pontos de vista.
Estabelecer previamente um terreno comum é uma ótima base para engatar um relacionamento; o problema é se aferrar a um molde que só existe na própria cabeça ou só se interessar por quem faz seu “tipo” (leia aqui o post).
A própria pessoa também condenar um conexão ao fracasso quando recusa se entregar 100% numa possível interação, não apenas por receio e estratégia de autopreservação mas por achar que pode aparecer alguém “melhor”. Os apps criaram uma ideia de oferta infinita de possibilidades e a perspectiva de encontrar o match “perfeito” se reflete na dificuldade em fazer escolhas, pela estranha sensação de sempre estar perdendo alguma coisa.
Reavalie suas intenções e necessidades afetivas
Um passo para superar o esgotamento por matches e encontros é reavaliar o uso dos apps de namoro com mais clareza e noção de propósito. Dar um passo para trás num afastamento temporário pode ser a atitude mais saudável para compreender melhor os próprios padrões de relacionamento e ter certeza das verdadeiras necessidades afetivas.
É comum buscar conexões sem pensar, simplesmente por hábito, tédio ou medo da solidão, em vez de ter uma intenção clara. Faça a si mesmo perguntas do tipo:
- “Estou usando o app para realmente encontrar uma conexão significativa ou é por vício ou temor de ficar sozinho?”
- “Quero mesmo uma relação duradoura ou estou me contentando com encontros casuais?”
- “Minha busca é urgente ou poderia esperar uma conexão no mundo real?”
Esse resguardo temporário não implica em desistir definitivamente da busca do amor. Significa apenas que se precisa de tempo para recarregar as forças e recuperar a saúde mental e emocional.
Troque o virtual pelo real
A potencialmente infinita oferta de possíveis matches nos apps também leva muitos a deixar o mundo real em segundo plano. A potencialmente infinita oferta de possíveis matches nos apps também leva muitos a deixar o mundo real em segundo plano.
No virtual analisamos de antemão tipos físicos e gostos, mas a vida real pode surpreender com alguém interessante muito além de nossas expectativas.
Que tal se concentrar mais nas nas interações do dia-a-dia e se abrir a conhecer pessoas em situações “normais”?
Atitudes simples como sorrir para um estranho ou elogiar alguém têm o poder de mudar a perspectiva da busca por um relacionamento e, possivelmente, até criar uma conexão.
Superar o “burnout” afetivo talvez implique em mudar a rotina de encontros, ser mais seletivo — ou menos seletivo — nos matches.
Quando se sentir esgotado, dê uma pausa nos apps e só volte quando estiver mais animado.
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