Quando a gordura corporal é inofensiva ou é maléfica e perigosa?

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A gordurinha que se vê entre a pele e os músculos da barriga não é tão maligna quanto outra que não se enxerga, a gordura visceral, acumulada nos órgãos do abdômen.

Homem No Espelho - gordura corporal

Por Wilson Weigl

Fotos: Deposit Photos

Nem toda gordura corporal é igual. Algumas delas, apesar de visualmente pouco estéticas, podem ser mais inofensivas, enquanto outras, que não se enxergam, são muito mais prejudiciais e perigosas.

Em impacto na saúde, a quantidade de gordura corporal é menos importante do que o local onde está armazenada, pois se comporta de maneira diferente em cada parte do corpo. A gordurinha abdominal aparente, entre a pele e os músculos, não é tão maléfica quanto outro tipo que não se vê: a gordura visceral, que se acumula profundamente no abdômen em volta dos órgãos internos como fígado, intestinos e rins e aumenta o risco de problemas cardiovasculares e diabetes. Essa é altamente maligna.

Homem No Espelho - Estar um pouco acima do peso já é perigoso para a saúde?

Os homens tendem a engordar principalmente em volta da cintura e sobre os músculos abdominais, onde são mais numerosas as células adiposas, especializadas em armazenar gordura. A parte macia que se sente ao beliscar a barriga é a gordura subcutânea, mais superficial, que se comporta de maneira diferente e menos nociva da gordura visceral, por produzir menos compostos inflamatórios danosos.

Estar acima do peso é sempre perigoso. Apesar de existir uma diferença crucial entre estar apenas um pouco ou muito acima do peso ideal, na conceituação médica sobrepeso e obesidade significam o mesmo: acúmulo excessivo de gordura corporal, apenas em diferentes graus. A ameaça à saúde cresce à medida em que aumenta o excesso de peso (leia aqui o post).

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Os pesquisadores veem a gordura corporal como uma substância de várias facetas, e que de certa forma não é diferente da gordura presente nos alimentos. A gordura trans da margarina hidrogenada, que obstrui as artérias, não é a mesma que a gordura monoinsaturada, benéfica para o coração, do azeite de oliva e do abacate. Nesse mesmo sentido, a gordura ao redor dos quadris também não é a mesma que a gordura em volta do fígado.

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Gordura corporal era uma arma de nossos ancestrais

Pense num homem das cavernas faminto que avistou um mamute gordo e carnudo. Para poder perseguir e matar a fera, ele precisava de uma fonte de energia disponível na mesma hora — na parte superior do corpo. O fato dos homens pré-históricos serem caçadores é provavelmente a razão pela qual ainda hoje o sexo masculino armazena mais gordura na barriga. Subcutânea ou visceral, é um depósito que estoca e libera energia com facilidade.

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O problema é que ainda hoje nossos corpos retêm muita gordura visceral, mesmo que não sejamos mais homens das cavernas famintos. E esse tipo de depósito de gordura, além de não ser mais útil, é uma bomba-relógio funcionando silenciosamente.

Como as mulheres tendem a armazenar mais gordura na parte inferior do corpo — bunda, quadris e pernas —, levam vantagem sobre os homens em termos de saúde, pela menor predisposição à gordura visceral. Essa é uma das razões pelas quais se acredita que as mulheres são mais resistentes a doenças cardíacas.

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O lado benéfico da gordura

Foram identificados cerca de 300 compostos provenientes da gordura e, felizmente, alguns são benignos, como a leptina. Esse hormônio é produzido principalmente pelas células de gordura e, sem ele, teoricamente comeríamos até o estômago estourar. A leptina desempenha papel crucial na regulação do apetite e da saciedade e rege a resposta do corpo aos sinais de “estou satisfeito” vindos do estômago.

A leptina também influencia o gasto de energia corporal, incluindo a termogênese (processo pelo qual o corpo produz calor, impulsionando o metabolismo) e a utilização de gordura como fonte energética.

Quanto maior a quantidade de células de gordura, mais leptina circula no sangue e mais fácil obter satisfação com menos comida. Mas embora esse sinal  de saciedade seja bem registrado em pessoas magras, parece ser menos eficaz em pessoas com sobrepeso. Níveis elevados de leptina causam um tipo de resistência ao hormônio, em que o corpo não responde aos seus sinais, o que aumenta o apetite e dificulta o emagrecimento.

Inflamação: efeito maléfico da gordura

A gordura visceral é uma ameaça por ser altamente suscetível à inflamação. À medida que aumenta a quantidade armazenada, desencadeia uma resposta celular projetada para recrutar células imunológicas. Quando o tecido está inflamado e cheio de gordura, pode liberar substâncias nocivas que podem desregular o apetite, reprogramar os mecanismos de armazenamento de gordura, provocar resistência à insulina (diabetes), elevar os níveis de triglicerídeos a níveis fatais e deflagrar uma série de doenças associadas à síndrome metabólica.

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Gordura no coração? Sim, ela existe

Apenas alguns gramas de alguns tipos de gordura corporal podem ser uma ameaça à vida. Pesquisadores começaram recentemente a investigar mais a fundo um tipo de gordura chamada perivascular epicárdica, que se acumula ao redor do coração, especialmente nas artérias coronárias. Essa gordura secreta substâncias inflamatórias e outros compostos associados ao maior risco de doenças como insuficiência cardíaca, infarto e aterosclerose.

A queima de gordura no exercício

Quando se coloca os músculos para trabalhar, eles liberam enzimas que transformam aglomerados de gordura em combustível, por meio do processo chamado lipólise. O exercício estimula a lipólise por demandar mais energia e o glicogênio muscular nem sempre é suficiente para suprir a necessidade. O corpo libera adrenalina e noradrenalina que agem nas células de gordura e ativam enzimas de lipólise, transformando triglicerídeos (a forma de armazenamento da gordura) em ácidos graxos. Liberados na corrente sanguínea, são transportados para os músculos para uso como combustível. 

Pesquisas mostram que quem se exercita com frequência tem quase 50% menos marcadores de inflamação no sangue do que pessoas fora de forma e sedentárias. A lipólise aumenta com a intensidade do exercício, sendo mais eficaz em atividades prolongadas. 

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Na gordura visceral, porém, a lipólise ocorre a uma taxa anormalmente alta, num processo contínuo de desconstrução e reconstrução que mantém a corrente sanguínea inundada de gordura. Essa alta concentração de compostos de gordura pode sobrecarregar o fígado e elevar os níveis de colesterol ruim (LDL) e triglicerídes.

A gordura visceral prejudica a testosterona

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Há também uma conexão complexa entre testosterona e gordura visceral. A testosterona, em níveis adequados, ajuda a manter uma distribuição saudável de gordura, enquanto o excesso de gordura pode diminuir a produção de testosterona, ao liberar substâncias inflamatórias e aumentar a atividade de uma enzima que converte testosterona em estrogênio, o principal hormônio feminino.

Aí se estabelece um ciclo vicioso: a queda da testosterona leva ao ganho de peso, especialmente de gordura abdominal, o que, por sua vez, agrava a queda da testosterona. À medida que a protuberância cresce na barriga, o homem pode começar a sentir queda de energia, ter baixa de libido ou dificuldade de ereção e, também, fica menos propenso a desenvolver músculos.
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Como queimar gordura em excesso

A dobradinha obrigatória para controlar e diminuir o acúmulo de gordura é conhecida: dieta (para diminuir a ingestão de calorias) e atividade física regular.

Os exercícios aeróbicos, dentro da academia (esteira, bike, transport) ou fora dela (corrida, ciclismo, natação etc) são importantes para queimar calorias extras. A musculação também é indicada, pois além de usar gordura como combustível, aumenta o tamanho e o peso dos músculos, o que faze o corpo gastar mais energia — ou seja, calorias — nas atividades diárias.

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Na dieta, o déficit calórico — consumir menos calorias do que se gasta na soma das tarefas diárias e dos exercícios físicos — é a estratégia número 1 para emagrecer. Não significa só “fechar a boca”, mas calcular a quantidade exata de calorias a cortar da dieta, em vez de confiar apenas na intuição do que engorda ou não. Para saber mais sobre o déficit calórico, leia aqui o post.

Capriche na alimentação: evite ao máximo comidas gordurosas, doces, refrigerantes, alimentos processados e porcarias e reforce o consumo de proteína, carnes magras, legumes, frutas, verduras, pães e massas feitos de cereais integrais.

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