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Enfrentar as barras e os halteres com o espírito combativo de um lutador é a melhor estratégia para progredir e obter resultado do treino.
Por Wilson Weigl
Fotos: Deposit Photos
Ser um cara tranquilo, da paz, certamente é uma qualidade, mas falta de agressividade não é uma vantagem no contexto do treino de musculação. Ao treinar é essencial adotar uma disposição física e mental não apenas 100% focada, mas também um pouco agressiva e combativa. Incorporar o estado de espírito de estar entrando numa luta em que o resultado só pode ser a vitória — como um gladiador romano prestes a ingressar na arena.
Nos treinos, a agressividade deve ser compreendida como uma energia positiva e construtiva, como o instinto primitivo que nos encoraja frente aos desafios. Esse impulso guerreiro ancestral, que vem dos tempos pré-históricos, permite dispor das capacidades físicas e mentais na totalidade — como fazia o homem das cavernas frente a um leão ou mamute. E ao aplicar esse potencial ofensivo na musculação, enfrentando barras e halteres como se fossem adversários, se progride no treino, se pega mais pesado e se obtém mais ganhos de massa muscular e força.
Na academia, esse ímpeto de lutar até o fim vai fazê-lo superar o homem que era no treino passado, na semana passada, no mês passado. A resolução de entrar na “arena” da academia como um gladiador vai deixá-lo pronto para “destruir” os pesos. Mas com a certeza de que não serão eles que irão te destruir.
“Canalizar de forma positiva esse instinto agressivo, combativo e enérgico, contribui para o progresso nos treinos, em que o corpo sucessivamente desenvolve novas adaptações neuromusculares para tornar seu desempenho cada vez mais eficiente”, explica Gustavo Ponce, professor da academia Smart Fit e personal trainer @gustavoponce.
“Concentração e foco favorecem alterações adaptativas que ocorrem simultaneamente no cérebro, no sistema nervoso e nos músculos e aumentam a força e a massa muscular”, diz o professor Gustavo. O cérebro aprende a recrutar de modo mais eficiente as fibras musculares, tanto em força quanto na capacidade de realizar contrações repetidas e movimentos coordenados. Essa conexão mente-músculo também forma a “memória muscular”, quando o corpo se “lembra” dos exercícios, facilitando futuras repetições.
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Segundo Gustavo Ponce, um exemplo de conexão mente-músculo é o feedback tátil, que consiste simplesmente em tocar o músculo que se está trabalhando no exercício. O contato funciona como um estímulo externo que ajuda o cérebro a “enxergar” melhor o músculo durante a contração. É por isso que a gente sempre vê um personal trainer tocando o aluno para fazê-lo sentir a tensão no músculo específico.
É fácil observar na academia que muitos caras demonstram estar treinando como se cumprissem nada além de uma obrigação, entediados executando os exercícios no piloto automático e digitando no celular entre as séries. Provavelmente vão fazer a série seguinte totalmente distraídos, pensando no que vão responder na conversa do whatsapp.
O oposto é o cara que parece treinar como se estivesse numa guerra, orientado por um plano de ataque. Como se desafiasse em cada repetição, cerra os dentes e aplica energia e empenho que não têm pinta de serem só físicos, mas também mentais. Pode-se deduzir que o sujeito está levantando mais peso do que nunca e estabelecendo um novo recorde pessoal. É possível até imaginar que no próximo treino ele vai tentar superar o desempenho e evoluir em sua meta.
Encarnar um espírito guerreiro não significa grunhir, gemer ou exagerar nos pesos de forma incalculada ou imprudente. Nem de se obrigar a ir até o limite, muito menos “roubar” nos movimentos ou executá-los incorretamente. Não são atitudes que se tomaria numa guerra. No campo de batalha, esse comportamento levaria à morte. E na academia, ao risco de se machucar e sofrer uma lesão.
Além de se estimular a sempre evoluir no treino, todo bom guerreiro encara o desafio com cautela. Executar roboticamente os exercícios não só limita os ganhos, mas nos deixa distraídos e descuidados. Equivale a enviar mensagens de texto enquanto se dirige. A imprudência num movimento mal feito ou no excesso de sobrecarga pode causar uma lesão, que deixará o lutador fora de combate por um bom tempo. Para evitar o risco, é preciso se esforçar de modo seguro e cauteloso, como faria um soldado numa batalha.
O lado bom desse esforço de guerra é seu efeito acumulativo no tempo. Quanto mais foco e garra você dedicar ao seu treino agora, mais forte, resistente e potente — em resumo, mais saudável — seu corpo será pelo resto da vida. Os benefícios da musculação vão além dos estéticos: treinar emagrece e faz o corpo gastar mais calorias (pelo aumento do peso da musculatura), acelera o metabolismo, protege os ossos (envolvidos por músculos mais fortes), aumenta a disposição e melhora a postura. E só com uma postura de guerreiro é que se pode progredir e tirar proveito total do treino.
Armas e táticas do guerreiro da academia
Foco mental
A habilidade de conectar mente e músculos exige concentração. É aconselhável ter o mínimo possível de distrações no treino (como ficar de olho no celular) e se concentrar no que seus músculos estão fazendo e em como sua mente está trabalhando junto com eles. Assim se aprimora a eficiência neuromuscular, que potencializa a hipertrofia. Sem a capacidade de manter o cérebro focado numa tarefa — no caso, o exercício — é difícil canalizar o esforço de modo construtivo.
Disciplina
Na Grécia Antiga, há mais de 2.500 anos, já se exigia total disciplina dos cidadãos em sua formação para a carreira militar como futuros soldados. Hoje é consenso que dedicação, constância e frequência de treino são requisitos fundamentais para alcançar qualquer meta de desenvolvimento físico. Adote um treino ajustado a seu nível de condicionamento e siga-o à risca como um “regimento” a ser cumprido.
Pegada forte
Agarre com firmeza e vontade barras, halteres e aparelhos, como um centurião romano empunhava a espada. A pegada é sua conexão com o peso, e a força de preensão favorece a ativação dos músculos. A pegada vigorosa gera um estímulo de “irradiação” que produz mais tensão muscular e contração abdominal (veja abaixo) e aumenta potência e força ao elevar e baixar os pesos.
Contração do abdômen
Ao começar um exercício, contraia os músculos abdominais, como um lutador prestes a levar um soco no estômago. Essa contração exerce função estabilizadora e protetora da coluna nos movimentos. Abdômen, lombar, quadril e pélvis formam o “core” (centro ou núcleo, em inglês), a região central do corpo, cujos músculos geram força e trabalham em conjunto nos movimentos, no equilíbrio e na postura. Imagine o exercício de agachamento com barra: o objetivo é trabalhar pernas e glúteos, mas ao não contrair o abdômen para estabilizar a coluna, joga-se a força para a lombar, com risco de lesionar as costas.
Aquecimento
Aqueça como faria um gladiador antes de entrar na arena para enfrentar um leão. Séries de aquecimento estabelecem a conexão mente-músculo e estimulam o corpo para os exercícios com pesos. Reserve um tempinho para se alongar, se necessário, mas lembre-se de que o aquecimento também é um estímulo. Faça o coração acelerar, o sangue fluir para os músculos. Exercícios de alongamento não são relaxamento, mas preparativos para entrar em ação no treino.
Finalmente, tenha em mente que somos feitos para dar tudo de nós. Somos feitos para dispor de toda a energia para desempenhar uma tarefa importante. E conseguimos canalizar essa energia na musculação incorporando um pouco de espírito guerreiro. Precisamos ir à guerra em cada treino.
Este post foi baseado no trabalho de Shane Duquette, escritor, ilustrador e treinador do Bony to Beastly no YouTube. Confira o site do Bony to Beastly.
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