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Jovens pais entre 25 e 35 anos têm um grande desejo: ser o melhor amigo do filho. Não querem ser como os pais de antigamente. A palavra-chave da relação, hoje, é cumplicidade.
Por Wilson Weigl / Fotos: Junior Franch / Modelos: Alessandro Pierozan e Gabriel Sarlo
Ser o melhor amigo do filho é um dos grandes anseios dos homens millenials e da geração Y, que têm entre 25 e 35 anos. Descobri isso quando comecei a escrever este post. Criar afinidade com os filhos é meta de 54% desses homens, segundo estudo da consultoria americana The Family Room, especializada em comportamento.
A pesquisa mostrou também que, entre os pais da geração anterior (a geração X, de homens entre 36 e 50 anos), esse não era um desejo tão forte: a porcentagem dessa busca de cumplicidade cai para 38% entre caras mais velhos.
Daí fiquei pensando: a cada geração, aquilo que se chama de “abismo entre gerações” (em inglês, generation gap) fica cada vez menor. As diferenças existem, sempre vão existir, mas o que era um abismo agora virou uma fresta, uma rachadura apenas.
Essa cumplicidade entre pais e filhos mostra que já ficou lá para trás aquele modelo arcaico de paternidade, autoritária, quando os homens eram “provedores” materiais, muitas vezes ausentes, relutavam em expressar afeto e não beijavam os filhos homens com medo de que se tornassem gays.
Segundo a pesquisa, a explicação é que os jovens atuais têm pais e mães que foram hippies, punks, roqueiros, pertenceram a movimentos políticos (lutaram contra ditadura militar no Brasil, por exemplo). Por isso foram criados com mais diálogo e menos regras impostas. Esse tipo de criação motiva os jovens pais e dar um passo além e querer ser ainda mais próximos dos filhos.
Criar um serzinho com nosso DNA é uma das tarefas mais difíceis do mundo. Quem é pai, como eu, sabe. Estudos científicos mostram que o homem experimenta importantes mudanças na química cerebral já a partir do anúncio da gravidez. Começam a despertar regiões cerebrais ligadas a sentimentos de afeto e carinho, adormecidas em alguns homens. O cérebro e o corpo feminino começam imediatamente a se preparar para receber a criança, mas os homens precisam “processar” o fato e lidar com uma situação externa.
A cabeça masculina é invadida por pensamentos aterrorizantes: gastos com maternidade, pediatra, fraldas. O homem visualiza anos à frente: mensalidades e material escolar, aulas de inglês, de balé, de judô. O bebê nem nasceu, mas o homem pensa: “e a faculdade? Quanto vai custar?”. A palavra gatilho que aciona os temores é “responsabilidade”.
Que bom que os novos pais querem ser bons pais. Não dar só segurança material, mas também afetiva. Mostrar o que é certo e errado, ensinar valores como retidão de caráter, honestidade (oi, políticos brasileiros), bondade, respeito ao próximo, compaixão, senso de justiça.
Como dizia a música do Renato Russo do Legião Urbana, “disciplina é liberdade”. É importante disciplinar mas também dar liberdade aos filhos, deixando claro que o pai está no comando mas também existe o livre-arbítrio. Ser pai também significa se impor. Às vezes, é fácil errar na mão e não impor limites à criança, para evitar que ela experimente frustrações. Afinal, no fundo nenhum pai quer que o filho sofra!
Vamos procurar ser bons filhos também. Na adolescência, ainda segundo os psicólogos, muitos de nós “matamos” nossos pais, achamos que são velhos, chatos, ultrapassados, nos fazem passar vergonha em público. Não é obrigatório “matar” a figura paterna, mas às vezes isso é necessário para construirmos nossa independência, nossa personalidade fora da sombra que esse homem projetou sobre nós durante toda a infância.
Ah, mas você não consegue se aproximar do seu pai… Ele é fechado, antiquado, bitolado, não participa da sua vida. Para entendê-lo melhor, volte lá atrás na sua árvore genealógica e pense em seu avô, bisavô, tataravô.
Como era (ou é) seu avô? De que jeito ele criou seu pai? Foi um cara legal ou um chato? Autoritário? Severo? Como seu avô ensinou seu pai a encarar as mulheres? Os gays? De um jeito machista, preconceituoso? Liberal, compreensivo? No tempo deles, como era o papel masculino na sociedade? Refletindo sobre o passado do seu pai você vai começar a entender muita coisa sobre ele.
Pergunte a seu pai como era isso ou aquilo no “tempo” dele. Ensine a ele tudo sobre as novas tecnologias. Convide-o para uma viagem de final de semana. Daquelas de homem, amigos, camaradas. Só ele e você (ou seus irmãos). Como barba e cabelo é a praia do Homem No Espelho, sugiro também uma visita juntos à uma barbearia bacana. Dessas que cortam o cabelo, fazem a barba, servem cerveja e petiscos, têm mesa de sinuca e pebolim.
É muito legal que hoje, ao contrário do que acontecia há 30 anos, pais e filhos saem juntos para beber, gostam do mesmo tipo de comida, dos mesmos gêneros musicais (pode ser rock dos anos 70 ou eletrônica atual). Trocam memes pelo whatsapp, compartilham e comentam posts. Às vezes usam o mesmo corte de cabelo e se vestem de jeito parecido.
Eu às vezes compro uma camisa ou camiseta para mim e outra igual para meu filho, que é homem feito. E ele faz o mesmo de vez em quando. Quando ele morava comigo, tínhamos que escrever as iniciais na etiqueta para não misturarmos as peças iguais. Isso era impensável nos tempos dos nossos avós.
Quem disse que o mundo não está mudando para melhor?
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