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O cérebro não “desliga”, mas descansa acordado quando se pratica atividades prazerosas que não exigem esforço mental excessivo.
Por Wilson Weigl
Fotos: Deposit Photos
Da mesma forma que o corpo pede repouso, o cérebro precisa de tempo para descansar. Mas quem nos momentos livres fica aferrado ao celular e nas mídias sociais ou em frente do computador ou do videogame não está dando alívio ao cérebro, e sim mais trabalho, apenas mudando o foco da sobrecarga.
O verdadeiro descanso cerebral só ocorre quando o órgão não está ativamente engajado em tarefas ou estímulos intensos. “O cérebro não ‘desliga’, mas pode entrar em modos de funcionamento que favorecem a recuperação cognitiva, emocional e física”, explica o neurocirurgião e neurocientista Fernando Gomes, professor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e autor de 9 livros de neurologia e comportamento, como
.O órgão descansa não apenas enquanto se dorme, mas também em vigília, quando se pratica atividades que estimulam emoções positivas sem exigir esforço mental excessivo. Segundo o médico, esse tipo de repouso não é sinônimo de inatividade, de “não fazer nada”. Em períodos em que o cérebro continua trabalhando, mas sob menos pressão, entra em um estado de imersão prazerosa que promove a recuperação do esforço.
Esse tipo de descanso cerebral ocorre durante atividades simples que proporcionam bem-estar, como ler, caminhar, ouvir música, tocar um instrumento, cozinhar, pintar, praticar esportes leves ou apenas contemplar a natureza.
“Essas atividades reduzem a liberação de cortisol, o hormônio do estresse, e ativam o circuito de recompensa — um conjunto de estruturas neurais responsáveis por processar e gerar sentimentos de satisfação e motivação”, diz o professor Fernando Gomes. Além de evitar o esgotamento mental e a fadiga, diminuem a ansiedade, melhoram a capacidade de concentração e estimulam a criatividade.
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Há pelo menos três formas principais de promover de modo eficaz esse descanso cerebral “acordado” , segundo o especialista:
Atividades prazerosas com leve envolvimento cognitivo: Ler, caminhar ao ar livre, praticar jardinagem ou escutar música são exemplos que combinam estímulo leve com sensação de bem-estar.
Estado de fluxo (flow): Tocar um instrumento musical, cozinhar, pintar, desenhar ou praticar esportes leves levam o cérebro ao “flow”, conceito da psicologia que descreve o estado mental de imersão completa em que se sente prazer e satisfação na própria atividade e não apenas no resultado.
Ócio cerebral e momentos de “nada” com propósito: Períodos de calma, tranquilidade e silêncio, quando se esvazia a mente e não se faz absolutamente nada, ativam áreas do cérebro ligadas a criatividade e reorganização interna. É aquela ideia de se sentar embaixo de uma árvore no parque ou ficar olhando o mar.
O perigo do falso descanso
Descansar não é ficar no celular. “O uso intenso de dispositivos digitais provocam a liberação excessiva de dopamina, neurotransmissor que desempenha papel crucial no sistema de recompensa do cérebro, associado a prazer e motivação”, alerta Fernando Gomes. O excesso de dopamina digital pode levar à busca constante por esses estímulos, gerar exaustão e efeito rebote, prejudicando a concentração, o sono e a capacidade de obter prazer em atividades que demandam maior esforço mental, completa o médico.
Descanso também é prevenção
Além de melhorar o humor e a produtividade, momentos de real lazer estão associados à neuroproteção. “Estudos mostram que o descanso adequado ajuda a consolidar memórias, transformando-as de temporárias para duradouras, e pode reduzir o risco de doenças neurodegenerativas, condições progressivas e irreversíveis do sistema nervoso que causam degeneração e morte de neurônios, como esclerose, Alzheimer e Parkinson”, diz Fernando Gomes.
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